Algumas feridas parecem insaciáveis

Parece que hoje está sendo um dia atípico para aquela que se compraz em roubar palavras. Pois é, há tempos que isso não acontecia, mas a melancolia apareceu hoje. A moça não gosta de ficar assim tão melancólica e evita como pode. Afinal, vamos convir que não há nada mais enfadonho do que se ter ao lado uma pessoa eternamente choramingando. Uma vez ou outra até que se admite, pode até dar um certo ar de fragilidade e fazer com que se angarie uma parcela de simpatia, mas não sempre. Torna-se maçante se for frequente. Ela sabe disso e por isso evita.

Mas hoje a inquietude se faz dominante. Acho que não vai haver muito espaço para as coisas práticas do dia... Os pensamentos andam desalinhados, desorientados. Disformes mesmo. E sempre muito bem acompanhados de certas lembranças é claro, as quais fazendo jus ao nome jamais serão revividas. São seus arquivos da alma.

O assunto em questão não é novidade, é algo antigo e possui um quê de complexidade. E acho que só resta mesmo o silêncio. As palavras seriam irrelevantes no momento. Tudo o que poderia ser dito já o foi. Mas há certos olhares que são barulhentos. Ensurdecedores e espalhafatosos. Contudo, é o papel do olhar; deste tipo de olhar pelo menos. Comunicar sem palavras.

Não que as palavras não sejam perfeitas em algumas ocasiões, mas elas jamais terão o requinte de um olhar assim. Nunca explicarão certas coisas de forma tão abrangente e simultânea como esse tal olhar. Não têm tanta sutileza.

É, pensando bem, é melhor um silêncio assim do que milhões de palavras. Vamos deixar assim então. Cada uma das palavras que ainda não foram proferidas guardadas lá, naquele silencioso par de olhos.

Olhos que também gritam acerca de lágrimas que talvez nunca se fartem de cair porque cá entre nós algumas feridas da alma parecem insaciáveis. Não se pode negar contudo que haja uma trégua de vez em quando, mas elas sempre voltam. Como hoje, por exemplo...